Bom dia pessoal
Estamos começando mais uma 4° CULTURAL e hoje vos apresento um pequeno trecho do texto MACARIO do grandioso Álvares de Azvedo que despensa qualquer comentário, pois se você ainda não leu nada dele crie vergonha na cara e vá ler!!!
MACÁRIO
Mais claro que o dia. Se chamas o amor a troca de duas temperaturas, o
aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos que arquejam, o beijo de duas
bocas que tremem, de duas vidas que se fundem tenho amado muito e sempre! Se
chamas o amor o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar
o
amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que
pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais
doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela -
eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena
de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loira, de
cabelos castanhos ou negros. Tenho-as visto que fazem empalidecer - e meu
peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria..
Parece-me então que se aquela mulher que me faz estremecer assim
soltasse sua roupa de veludo e me deixasse por os lábios sobre seu seio um
momento,
eu morreria num desmaio de prazer! Mas depois desta vem outra - mais
outra - e o amor se desfaz numa saudade que se desfaz no esquecimento. Como eu te
disse, nunca amei.
O DESCONHECIDO
Ter vinte anos e nunca ter amado! E para quando esperas o amor?
MACÁRIO
Não sei. Talvez eu ame quando estiver impotente!